terça-feira, 13 de abril de 2010

Sobre semear lírios e caminhos

“Este é tempo de partido, tempo de homens partidos”. Assim se inicia o poema “Novo tempo” de Carlos Drummond de Andrade e assim se iniciou o Movimento “Os Lírios Não Nascem da Lei”: de um tempo de homens partidos. Para ser mais exato, surgiu de pessoas inquietas com essa situação. Pessoas que viam um cada vez mais árido curso de Direito na Universidade Federal do Maranhão, mas que mantinham suas esperanças de dali fazer germinar algo novo, mais belo, mais justo, em contraste com toda a atmosfera de autoridade, desesperança, marasmo, academicismo e tudo o que nós do movimento chamamos genericamente de “antilirismo”.

Mas como proceder em um cenário em que muitas vezes se nada contra a correnteza? Como avançar em uma luta que muitos já abandonaram, onde tantos desistiram, esgotados? Quando não se pode mais ir por caminhos já fechados, resta-nos descobrir novos caminhos, abrir novas passagens e trilhar um futuro diferente. É a isso que nós, do Movimento “Os Lírios Não Nascem da Lei” nos propomos: fazer diferente. Não nos contenta a mera representação, característica do Movimento Estudantil tradicional; queremos fomentar a emancipação e o protagonismo dos estudantes. Queremos que aqueles que detêm os direitos sejam realmente os responsáveis pela efetivação daqueles, que não dependam de outros para que isso aconteça. Pretendemos construir um curso novo juntamente com todos os estudantes; que estes sejam de fato, e não apenas formalmente, membros do Centro Acadêmico I de Maio.

Queremos diálogo de verdade, aquele que prima pela horizontalidade entre os sujeitos, que só é feito entre iguais. Queremos que isso se dê entre os estudantes, entre estes e o departamento e a coordenação do curso, entre os outros cursos, entre a Universidade como um todo e a sociedade de modo geral. É este diálogo que não vemos acontecer nos dias que ora correm e é pela concretização dele que pretendemos lutar, porque entendemos que isso por si só já é a base para grandes transformações em nosso curso.

Sabemos que nossas pretensões não são simples, mas temos propostas lúcidas e coerentes de buscar formas de efetivá-las. Acreditamos que o Direito não é uma ilha isolada no vasto oceano do conhecimento humano; podemos sim aliá-lo às mais diversas formas do saber e do agir. O Direito não precisa estar desvinculado da poesia, da luta, da alegria, do lirismo. Isolados em nossa torre de marfim, jamais saberemos que mundo é esse que todo dia juramos defender, que sociedade é essa pela qual iremos lutar, até que nos deparemos com eles frente a frente – um momento em que pode ser tarde demais.

Acreditamos no Direito, mas temos plena consciência que ele não se esgota nas leis. “Os lírios não nascem da lei”, como bem disse o jurista e poeta Carlos Drummond de Andrade. Para que nasçam os lírios precisamos dar as mãos, lutar e erguer nossas vozes, caso queiram calá-las. Para concretizarmos nossos direitos, precisamos buscar novos caminhos, cultivar novas práticas. Como já dito, isso nada tem de simples, mas também está longe de ser inalcançável. Não somos lunáticos – somos sim, sonhadores, porque sabemos que a utopia não é um lugar para se chegar, é um farol que mostra o melhor caminho. Não o mais fácil, não o mais trilhado; é um caminho diferente, porém, e confiamos na força dos nossos ideais para que nos dê coragem para segui-lo, abrindo passagem para que outros também o façam.

“Como sei pouco, e sou pouco,/faço o pouco que me cabe/me dando inteiro. /Sabendo que não vou ver/o homem que quero ser.” (Thiago de Mello)

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