segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Os lírios não nascem da lei


Poesia!, a luta e o Direito não prescindem de poesia! Ao menos é assim que acredita o recém-criado Movimento “Os lírios não nascem da lei”.

Composto por um grupo de estudantes do curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão, o movimento foi buscar nos versos de Carlos Drummond de Andrade estímulos para vencer o marasmo antilírico que permeia o curso e os seus alunos.

Além da fusão dos sentimentos de inquietação, o que une fortemente os integrantes deste movimento é o ideal de que ainda é possível reverter esse quadro e lutar para garantir os direitos dos estudantes através da organização e mobilização coletiva. Assim, a busca pela efetivação de direitos e construção de um saber crítico há de nortear sua atuação pela universidade para que, enquanto agentes transformadores da sociedade, construam o justo e belo ou, em amplo senso, façam poesia!

Nosso Tempo

Nosso Tempo
Carlos Drummond de Andrade

I

Este é tempo de partido,
tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimo, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!

Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.